Madrid e Lisboa viveram esta segunda-feira um dos episódios mais graves de falha energética das últimas décadas. O apagão que deixou praticamente toda a Espanha e Portugal às escuras teve origem numa sequência fulminante de incidentes registados num intervalo de apenas cinco segundos, de acordo com informações divulgadas esta terça-feira pela Red Eléctrica de España (REE), operadora da rede elétrica espanhola.
Às 12h33 (hora local), tudo parecia estar a funcionar com normalidade no sistema elétrico espanhol. Contudo, nos segundos seguintes, o equilíbrio da rede foi subitamente comprometido, resultando num colapso generalizado da infraestrutura de fornecimento de energia elétrica que se estendeu a praticamente toda a Península Ibérica, incluindo Portugal.
“As conclusões que temos ainda não são definitivas. A informação que possuímos é parcial”, esclareceu Eduardo Prieto, diretor de serviços e operações da REE, numa conferência de imprensa realizada em Madrid, onde começou a detalhar a cadeia de eventos que culminou no apagão.
Sequência de falhas em segundos críticos
Segundo Prieto, o primeiro incidente ocorreu imediatamente após as 12h33, com uma perda de geração de eletricidade detetada na região sudoeste de Espanha. Esta falha inicial foi compensada automaticamente pelos mecanismos de estabilidade da rede, como seria esperado. No entanto, apenas 1,5 segundos depois, ocorreu um segundo evento, também interpretado como uma nova perda de geração elétrica.
A situação agravou-se ainda mais 3,5 segundos após o início da crise: deu-se uma perturbação crítica na interligação elétrica entre Espanha e França, que levou ao isolamento da Península Ibérica em relação à rede europeia. Esta rutura no fornecimento transfronteiriço teve um impacto devastador no equilíbrio energético, deixando a Península sem apoio externo num momento de extrema instabilidade.
Seguiu-se, então, a desconexão em larga escala da geração renovável, sobretudo solar e eólica — tecnologias que têm um papel crescente na matriz energética ibérica. A ausência súbita deste contributo agravou o desequilíbrio do sistema. “A rede não conseguiu resistir a uma perturbação tão extrema”, admitiu Prieto.
Do lado português, os efeitos foram igualmente dramáticos. Grande parte do território nacional foi atingida por falhas de fornecimento, com Lisboa, Porto e outras cidades a registarem cortes generalizados de eletricidade, paralisando transportes, comunicações e serviços essenciais. O apagão causou também congestionamentos nas principais vias urbanas, suspensões na circulação de comboios, encerramento temporário de lojas e estabelecimentos, e falhas nas redes móveis de comunicações, bem como paralisação dos transportes públicos como metro e comboios.
Embora os peritos da REE tenham afirmado que é ainda cedo para tirar conclusões definitivas, o incidente está já a ser estudado com prioridade pelas autoridades espanholas e europeias. A desconexão do sistema ibérico da rede europeia levanta preocupações sérias sobre a resiliência energética da Península, particularmente num momento em que a transição energética acarreta maior dependência das renováveis — cuja produção é, por natureza, intermitente.
O episódio surge num contexto de avisos prévios por parte de especialistas. Carlos Cagigal, especialista espanhol em energia e infraestruturas elétricas, já havia alertado para a possibilidade de incidentes deste género. “Estamos a gerar mais eletricidade do que conseguimos armazenar, e isso está a criar desequilíbrios no sistema”, afirmou na segunda-feira ao canal La Sexta. Para Cagigal, o risco de novos apagões permanece elevado nos próximos meses: “Isto não será um caso isolado. É necessário preparar a população”, sublinhou.













